Conjuntura: DF cresce 2,3% no primeiro trimestre de 2022

Introdução

O cenário macroeconômico do primeiro trimestre de 2022 foi marcado por fatores que contribuíram para estimular um processo inflacionário a nível mundial, principalmente, refletindo as preocupações quanto ao conflito entre Rússia e Ucrânia e os riscos de uma política monetária mais apertada em meio a disparada de preços de commodities de energia e de alimentos no mercado internacional. A principal medida para enfrentar os sintomas de instabilidade econômica no Brasil foi a continuidade do ciclo de escalada da taxa de juros, a Selic. Um remédio que gera efeitos colaterais pouco desejáveis como o desestímulo ao consumo e ao investimento, repercutindo negativamente sobre o nível de atividade econômica.

Esse é o contexto que ditou o comportamento dos indicadores apresentados na vigésima edição do Boletim de Conjuntura do Distrito Federal e que ajuda a explicar a trajetória do Índice de Desempenho Econômico do Distrito Federal (Idecon/DF), principal indicador do nível de atividade produtiva da capital brasileira e fonte de informação tanto para a estruturação de políticas públicas locais quanto para a orientação das decisões dos agentes do setor privado.

Economia do Distrito Federal

A economia do Distrito Federal avançou 2,3% no 1º trimestre de 2022 em relação ao mesmo trimestre de 2021, de acordo com os dados do Idecon-DF. O resultado é o quarto aumento consecutivo do nível de atividade econômica da capital federal e contou com a colaboração de todos os grandes setores produtivos. A maior expansão foi percebida pela Agropecuária (+9,2%), seguida por Serviços (+2,3%) e a Indústria (+0,5%). No acumulado entre abril de 2021 e março de 2022, a capital federal apresenta variação positiva de 4,1%. Nessa base, a Indústria distrital se destaca com um incremento de 5,0% e os Serviços acumulam alta de 4,1%. A Agropecuária, que enfrentou problemas climáticos ao longo de 2021, manteve-se relativamente estável (-0,2%).

Gráfico 1 – Idecon-DF: Variação Trimestral (%) por Segmentos de Atividade Econômica – Distrito Federal – Trimestre em relação ao mesmo trimestre no ano anterior – 1T2022 – Variação (%)

¹ Extrativa mineral e Eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana.
² Informação e Comunicação; Alojamento e alimentação; Atividades profissionais, científicas e técnicas, administrativas e serviços complementares; Artes, cultura, esporte e recreação e outras atividades de serviços; Educação e saúde mercantis; e Serviços domésticos; Transporte, armazenagem e correio e Atividades imobiliárias.

Fonte: Codeplan. Elaboração: GECON/DIEPS/CODEPLAN

Comércio e Serviços no Distrito Federal

O ímpeto do comércio varejista ampliado esteve acelerado durante o primeiro semestre de 2021, porém perdeu sustentação a partir de julho e inverteu sua trajetória, iniciando uma tendência de queda que se manteve até o fim do ano. No Distrito Federal, que acumulava um resultado negativo no encerrar do ano passado (-2,2%), houve uma melhora no desempenho do comércio local nos primeiros três meses de 2022, de forma que a capital federal encerrou o trimestre acumulando uma variação de -1,1% – ainda negativa, porém menos intensa. Já no cenário nacional, o indicador se estabilizou e encerrou o primeiro trimestre de 2022 em 4,4%, próximo aos 4,5% observados em dezembro do ano anterior, de acordo com os dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE.

Gráfico 2 – Variação acumulada em 12 meses do volume de vendas no Comércio Varejista Ampliado – Brasil e Distrito Federal – janeiro de 2020 a março de 2022 – %

Fonte: IBGE. Elaboração: GECON/DIEPS/Codeplan

Já o setor de Serviços seguiu em uma trajetória sustentada de crescimento tanto em nível distrital como nacional. O volume de serviços informado pela Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), que é divulgada pelo IBGE, avançou 11,0% no Distrito Federal entre abril de 2021 e março de 2022 (Gráfico 8). Vale mencionar que, no primeiro trimestre de 2022, foi possível observar uma aceleração do ritmo de crescimento dessa atividade na capital federal, mostrando certa pujança do mercado local. No Brasil, esse indicador mediu uma variação de 13,6% no acumulado nos últimos 12 meses, mas vem crescendo a taxas cada vez menores.

Gráfico 3 – Variação acumulada em 12 meses do volume de serviços – Brasil e Distrito Federal – janeiro de 2019 a março de 2022 – %

Fonte: IBGE. Elaboração: GECON/DIEPS/Codeplan

Desempenho dos preços no Distrito Federal

O nível de preços praticados no Distrito Federal expandiu 2,86% no primeiro trimestre de 2022, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), enquanto o nacional avançou 3,20%. O valor representa uma aceleração da inflação em relação ao trimestre anterior (+2,77%) e o maior percentual para o período desde 2003 (+6,34%). Esse resultado coloca o DF, novamente, como a segunda menor inflação do trimestre entre as regiões pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

A maior contribuição para a inflação distrital veio do grupo de Alimentação e Bebidas, que acresceu 0,82 ponto percentual (p.p.) ao índice. Porém, em termos de contribuição individual, os itens do grupo de Transportes destacaram-se: Gasolina (+0,36 p.p.); Seguro voluntário (+0,24 p.p.) e Automóvel novo (+0,12 p.p.). A disseminação da alta de preço atingiu quase a totalidade da cesta do DF, fazendo com que o índice de difusão chegasse a 95,6% na capital federal.

Gráfico 4 – IPCA: Variação trimestral em relação ao trimestre anterior, por grandes grupos – Brasil e Distrito Federal – 1º trimestre de 2022 – %

Fonte: IBGE. Elaboração: GECON/DIEPS/Codeplan

A centralização da inflação em itens que pesam mais no orçamento das famílias de baixa renda ajuda a explicar a trajetória do INPC acima da do IPCA. Na prática, isso mostra que o poder de compra da população com menor rendimento está corroendo mais rápido e intensamente que o da maior parcela das famílias brasilienses. Em março de 2022, a diferença entre o INPC e o IPCA acumulados em 12 meses já chegava a quase 1 p.p..

Gráfico 5 – INPC e IPCA: Variação acumulada em 12 meses do nível de preços – Brasília (DF) – janeiro de 2019 a março de 2022 – %

Considerando a inflação por faixa de renda da população distrital, percebe-se que, no primeiro trimestre de 2022, a alta de preços foi mais intensa para as famílias com menores recursos. Assim, os 25% mais pobres da capital federal tiveram aumento de 3,02%, enquanto os 25% mais ricos, alta de 2,17%. Parte disso se deve ao fato de os gêneros alimentícios, principal fonte de inflação do período, terem uma maior participação nos orçamentos das famílias de menor renda.

Gráfico 6 – IPCA por faixa de renda: Variação trimestral do nível de preços – Brasília (DF) – 1º trimestre de 2022 – %

Fonte: GECON/DIEPS/Codeplan com dados do IBGE

Desempenho do mercado de trabalho do Distrito Federal

Os principais indicadores do mercado de trabalho do Distrito Federal mostraram que o primeiro trimestre de 2022 apresentou um cenário produtivo otimista e de bom desempenho do mercado de trabalho na capital do país. A Pesquisa de Emprego e Desemprego no Distrito Federal (PED/DF) calculou em 17,0% a taxa de desemprego em março de 2022 e em 282 mil pessoas o total de desocupados. O aumento frente ao final de 2021 ocorreu parcialmente devido a questões sazonais, com o desaquecimento do comércio local após as vendas de final de ano.

Gráfico 7– PED/DF – Taxa de desocupação e de participação (%) – 1º trimestre de 2019 ao 1º trimestre de 2022* – Distrito Federal

*Não houve divulgação da PED entre setembro de 2019 e março de 2020.
Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego no Distrito Federal (PED/DF). Convênio CODEPLAN-DIEESE. Elaboração: GECON/DIEPS/Codeplan

Considerações finais

As expectativas para a economia em 2022 giram em torno de um ambiente mesclado por otimismo e por incertezas. O primeiro está relacionado com a redução dos efeitos da crise sanitária da Covid-19 sobre a mobilidade urbana, recuperação das atividades produtivas e do bom desempenho dos indicadores do mercado de trabalho. Já as dúvidas são decorrentes de uma persistente inflação, de uma elevada taxa de juros, das conjecturas em torno dos resultados da eleição presidencial e da guerra entre Ucrânia e Rússia. Ademais, o mês de janeiro também foi palco de um novo pico de novos casos do novo coronavírus que, mesmo com quantitativos mais alto que ondas anteriores, teve uma repercussão sobre a economia menos intensa.

Diante desses fatores, é certo que os elevados percentuais de crescimento econômico apresentados em 2021 não se repetirão em 2022, mostrando um fraco desempenho seja a nível nacional, seja distrital. A mediana das expectativas do mercado apresentou uma taxa de expansão abaixo de 1%, contudo, tem havido um movimento ajuste altista à medida que os resultados econômicos brasileiros de 2022 vem sendo divulgados. Mesmo assim, a situação ainda inspira atenção, uma vez que a média de crescimento dos países em desenvolvimento calculada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) está acima de 3,0%.

Os riscos latentes inerentes a um cenário de incerteza impossibilitam uma visão de longo prazo acurada e também atrapalham os rumos da economia do Distrito Federal. Assim, espera-se um avanço acima de 1,8% no Idecon do DF no segundo trimestre de 2022. O resultado considera a trajetória passada da economia distrital e a alta de 2,3% verificada no primeiro trimestre do ano. Nessa conjuntura, o mercado de trabalho, que vem sucessivamente apresentando redução do desemprego e a criação de vagas com carteira assinada, contribui para melhorar o potencial de consumo da população local e, consequentemente, fomentar o seu nível de atividade produtiva.

A leitura dos indicadores macroeconômicos revela, então, um mercado de trabalho aquecido e pronto para absorver os grandes contingentes de desocupados, um movimento que é observado não apenas no Distrito Federal, mas na maior parte do país. Com a recuperação do poder de compra, o consumo, prejudicado pela alta da inflação e da taxa de juros, recebe um alento. O equilíbrio entre as forças atuando para a recuperação do nível de atividade produtiva e aquelas refreando-o constrói uma imagem de perspectivas econômicas até bastante positiva. Contudo, é preciso ter cautela na avaliação do cenário e sua repercussão sobre a atividade econômica da capital federal.