Resumo
- Em agosto de 2020, 127 mil pessoas ocupadas se encontraram afastadas de seus trabalhos no Distrito Federal. Em julho, eram 160 mil.
- Dessas, 20,5% deixaram de ser remuneradas em função de seu afastamento.
- A massa de rendimento real efetivamente recebido ficou 6,4% abaixo da massa de rendimento real habitualmente recebido em agosto de 2020. No mês anterior, a diferença havia sido de -10,0%.
- 22,6% da população fora da força de trabalho apontou que gostaria de trabalhar, mas não procurou trabalho por conta da pandemia.
Tabela 1 – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios COVID19 – Distrito Federal e Brasil – Agosto de 2020
Fonte: PNAD COVID19/IBGE. Elaboração: GECON/DIEPS/Codeplan.
¹ As taxas calculadas pela PNAD COVID19 são experimentais e não são compatíveis com outras pesquisas do IBGE.
Em junho de 2020, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deu início à divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios COVID19¹, com dados referentes ao mês de maio deste ano, que tem como objetivo monitorar os impactos da pandemia da COVID-19 no mercado de trabalho brasileiro. Com periodicidade mensal para todas as UFs, a PNAD COVID19 traz informações mais imediatas e focadas no efeito da pandemia sobre o mercado de trabalho do que os acompanhamentos regulares do IBGE, como a PNAD Contínua Trimestral. É importante destacar, porém, que o IBGE ainda classifica essas estatísticas como experimentais, devendo ser vistas com cautela e não diretamente comparadas às tradicionalmente divulgadas pelo Instituto.
O Distrito Federal apresentou, em agosto de 2020, uma taxa de desocupação de 13,3%. Apesar de expressivo, esse valor serve apenas como balizador e não é comparável com outras taxas de desemprego, como a PNADCT ou a PED/DF. Mais interessante, porém, é a desagregação da população ocupada entre aqueles que foram ou não afastados² de seus trabalhos durante o período de referência. É importante ressaltar que os indivíduos que migraram para modalidades de trabalho remoto não são considerados afastados. O Gráfico 1 traz essa decomposição para a população ocupada do Distrito Federal.
Gráfico 1 – Decomposição da população ocupada, por condição de afastamento – Distrito Federal – Agosto de 2020
Fonte: PNAD COVID19/IBGE. Elaboração: GECON/DIEPS/Codeplan.
Entre as 1.313 mil pessoas ocupadas no DF em agosto, 127 mil (9,7%) foram afastadas de seus trabalhos. Esse valor representa o menor número de afastamentos desde o início do período contemplado pela pesquisa, em maio. Desses indivíduos, 78 mil (61,0%) apontaram o distanciamento social como o motivo de seus afastamentos.
Esse quadro de trabalhadores afastados é significante, uma vez que 20,5% dessas pessoas tiveram suas remunerações suspensas em função desse afastamento. Ainda assim, esse indicador aponta uma melhora consistente em relação aos três primeiros meses da pesquisa, quando haviam sido registrados valores de 47,7%, 46,1% e 25,6%. Esses indivíduos adentram a estatística de pessoal ocupado sem estar exercendo função remunerada, mascarando uma taxa de desocupação mais alta e prejudicando a massa de rendimento real local.É interessante ressaltar também a evolução do número de ocupados em trabalho remoto, que cresceu 15,9% entre maio e agosto de 2020, com variações positivas em todos os meses da pesquisa.
Uma comparação entre a massa de rendimento real habitualmente recebido e a aquela de rendimento real efetivamente recebido mostra uma diferença de -6,4% no Distrito Federal em agosto de 2020 (Gráfico 2). Apesar de significativa, essa diferença foi a sexta menor entre as UFs, cujo resultado mais negativo chegou a atingir -13,2% no Rio Grande do Sul, e representa uma melhora em relação a julho, quando foi de -10,0%. Essa colocação pode ser em parte atribuída à importância do setor público, cujos salários e contratações são menos flexíveis e portanto variam menos, na economia distrital. Mesmo assim, o Distrito Federal e todos os estados apontaram diferenças negativas no mês, ilustrando a contração no poder de consumo da população em decorrência do novo coronavírus.
Finalmente, os efeitos da pandemia sobre o mercado de trabalho são sentidos também fora do quadro da população ocupada. Apesar das melhoras em indicadores como o número de afastados e a porcentagem de afastados que mantiveram suas remunerações, a constrição econômica resultante do distanciamento social ainda cria barreiras à entrada no mercado de trabalho.
Em agosto de 2020, das 985 mil pessoas no DF que se encontravam fora da força de trabalho, 223 mil (22,6%) apontaram que gostariam de trabalhar, mas não procuraram emprego em função da pandemia. No mês anterior, essa proporção havia sido de 24,5%. Ainda assim, a taxa de participação local (a porcentagem de pessoas em idade de trabalha que estão dentro da força de trabalho, ou seja, procuraram emprego nos últimos trinta dias) cresceu de 60,0%, em julho, para 60,6% em agosto, indicando um possível início de recuperação da confiança entre os brasilienses com suas perspectivas de trabalho formal.
Gráfico 2 – Diferença entre massa de rendimento real habitual e efetivo – Unidades da Federação – Agosto de 2020
Fonte: PNAD COVID19/IBGE. Elaboração: GECON/DIEPS/Codeplan.
¹ https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/27947-divulgacao-mensal-pnadcovid2.html?=&t=o-que-e
² São considerados afastados os indivíduos que, por razões temporárias, trabalharam menos de uma hora no período de referência.